Documentários

Pro dia nascer feliz, de João Jardim


O documentário Pro dia nascer feliz, realizado entre 2004 e 2005, é um dos raros filmes que retratam com delicadeza e sensibilidade a cruel realidade da vida de adolescentes na escola. João Jardim descreve o cotidiano de jovens em quatro escolas brasileiras. Em Pernambuco, São Paulo, Duque de Caxias e no Rio de Janeiro, todas elas são públicas. Há também uma escola em São Paulo, particular, em um bairro de elite. João Jardim não deixa de mostrar ainda outro estabelecimento de ensino, não nomeado, mas que o espectador percebe que é uma instituição para adolescentes em conflito com a lei.O filme começa com dados da educação da década de 1960 na voz de um locutor, informativo de meados do século XX, feito para o cinema e que passava antes das sessões. As frases vão repetindo o bordão que conhecemos tão bem e que ainda hoje se repete, sobre a precariedade “da educação” no Brasil. Passando pelos anos 1960 o documentarista mostra os dados de 2000 para constatar a realidade de um sistema que conseguiu universalizar o acesso e incluiu crianças e jovens antes alijadas do ensino. Em 1960 apenas 30% dos jovens e crianças tinham acesso à escola.Desde o sertão de Pernambuco, João Jardim entrevista estudantes e professores e descreve os ambientes e rituais escolares. Ao estilo de François Truffaut, consegue aproximar meninos e meninas da elite paulista com estudantes das escolas públicas nas periferias das três grandes cidades brasileiras. O sofrimento, a solidão e os sonhos de jovens brasileiros são narrados por suas próprias vozes.  O espectador não sai desse filme imune à crueza da vida desses adolescentes, e dos professores que se dedicam à difícil tarefa de educar 95% de jovens brasileiros com os meios precários de que dispõem e inseridos na cultura da repetência, expressão cunhada por Sergio Costa Ribeiro seguindo os passos de Teixeira de Freitas, que nos anos 1940 descobriu os princípios de organização da vida escolar brasileira. João Jardim expõe, especialmente, um dos cerimoniais mais chocantes da escola, o famoso conselho de classe, que nunca havia sido filmado, e mostra a difícil escolha de Sofia que cabe aos professores em seu papel de mestres.Tenho discutido o documentário em muitas escolas do Rio de Janeiro. Essas sessões são riquíssimas porque mostram como os estudantes se interessam pelo tema, debatendo as questões com seriedade e expressando ideias de equidade, de justiça e da missão das escolas.No início do mês de setembro houve mais um desses fabulosos debates em uma escola localizada em Ramos. Com turmas cheias, as aulas corriam normalmente, ou seja, os professores em sala escrevendo muito no quadro negro e, os estudantes nem sempre atentos ao assunto, e muito menos ao professor. Conversavam entre si e brincavam entre carteiras do início do século XX, de madeira de lei, geminadas e pesadíssimas, tornando o espaço da sala ainda mais apertado e o tumulto ainda maior.Na classe em que passamos o filme, um dos alunos ao fazer um belíssimo resumo do documentário terminou dizendo: “Estudar é horrível. Ninguém gosta mesmo de estudar. A gente gosta de ver os amigos, de estar com eles na escola, mas estudar, quem gosta de estudar?”Não tive como discordar.  É preciso tempo e brechas para que os estudantes possam descobrir seus caminhos. Fiquei impressionada com essa turma que falou pouco, mas resumiu suas angústias com frases bem construídas. Não houve nenhuma balbúrdia embora o filme tenha sido visto numa televisão de 20 polegadas e projeção de péssima qualidade. Mesmo assim, os olhos dos alunos brilhavam.O que mais me impressionou nesse debate foi a sinceridade das falas. Todos reforçaram que, apesar de não gostarem de estudar, estavam ali para ter uma vida melhor do que a de seus pais. Todos disseram que, ao contrário dos meninos e meninas da elite vistos no filme, não tinham herança nem gostariam de seguir a profissão de seus pais. A maioria dos meninos queria jogar futebol e alguns já estavam na escolinha do clube de Bonsucesso. Pensavam alto. Um deles disse que seu sonho era ser goleiro da seleção brasileira.O debate ficou mais intenso quando dois assuntos foram abordados. A falta dos professores e a aprovação automática. Naquela escola e em muitas outras, como nas descritas no filme, muitos professores faltam e as aulas terminam mais cedo. A maioria dos alunos acha um absurdo a escola não substituir os professores faltosos, e mais ainda a aprovação automática, que lhes parece uma dupla injustiça: Se não é necessária a reprovação porque precisam ir à escola onde pouco aprendem? E os que se esforçam são aprovados junto aos que não se esforçam? Quem não estuda deve ser reprovado, segundo disseram. Alguns, porém, apoiam essas duas práticas – faltas de professores e aprovação automática – quase estruturais na maioria das escolas públicas brasileiras. Para revolta da maioria, afirmam seriamente que é bom não ter aula e sair mais cedo e que o injusto é a reprovação que os obrigava a fazer tudo de novo.O filme termina com a câmera quase parada retratando os rostos dos entrevistados. Quando indaguei por que o final do filme tinha sido feito dessa maneira, a maioria disse que era para mostrar que havia diferenças entre os estudantes, mas que eles não eram diferentes. Ricos e pobres, meninos e meninas, brancos e negros e de outras muitas cores, tímidos e agressivos, altos e baixos, todos devem ser tratados como iguais.
Uma verdade que inconveniente

A ocorrência de fenômenos naturais extremos vem nos dando sinais de que algo incomum está acontecendo na natureza. Estamos vivenciando uma época de intensas ondas de calor em todo o mundo, de tempestades, secas e furacões cada vez mais severos, assim como o aumento de epidemias e a extinção de inúmeras espécies. Esses fenômenos têm sido apontados como consequência da mudança do clima na terra.
No filme “Uma Verdade Inconveniente: o que devemos fazer (e saber) sobre o aquecimento global” dirigido por Davis Guggenheim e apresentado pelo ambientalista e Ex- vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, o aquecimento global e suas consequências são retratados de forma realista. De caráter informativo e ao mesmo tempo impactante, o filme é exibido em forma de um documentário, elaborado a partir das palestras proferidas por Al Gore o redor do mundo.
Lançando mão de uma eloquente retórica e de excelentes recursos audiovisuais que exibem dados científicos e imagens de fenômenos naturais recentes, Al Gore argumenta de forma convincente que a temperatura da terra está aumentando e que a principal causa desse aquecimento são as ações do homem. A veracidade com que o tema é tratado é capaz de remover qualquer dúvida de que as atividades humanas exercem influências na mudança do clima. Além de nos deixar alarmados com os consequentes desastres ambientais a que estamos sujeitos, ou melhor, que já estamos vivenciando.
O aquecimento global é causado pela intensificação do efeito estufa que, por sua vez, é consequência do excesso da concentração de determinados gases na atmosfera, os chamados gases de efeito estufa, dentre eles o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso. A principal fonte desses gases tem sido atribuída particularmente à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento. Embora pesquisas científicas demonstrem claramente a correlação entre o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera e da temperatura, embora existam várias simulações do comportamento do clima através de modelagens computacionais, embora a ocorrência de eventos climáticos extremos esteja se intensificando, há ainda aqueles que questionam a veracidade de que o clima na terra está mudando e ignoram seus efeitos.
Informações publicadas no meio científico, e enfatizadas por Al Gore, são constantemente julgadas quanto à sua consistência. Mesmo havendo um sólido consenso científico, afirmando a correlação entre o aumento da temperatura e a concentração de dióxido de carbono, muitos ainda resistem em acreditar que o homem seja o principal culpado.
Os chamados “céticos do aquecimento global” defendem a teoria de que a terra está se aquecendo devido a causas naturais. Eles afirmam que mudanças climáticas periódicas ocorrem desde a origem da terra, com ou sem a interferência do homem como, por exemplo, as “Eras Glaciais”. E ainda, que o que estamos presenciando hoje são apenas flutuações cíclicas da natureza. Sabemos que eventos desse tipo já aconteceram em épocas passadas, mas vale ressaltar que tais mudanças ocorreram com variações naturais nos níveis de dióxido de carbono bem menores do que as que presenciamos hoje.
É sabido também que, além do efeito estufa, outros fatores internos ao sistema Sol- Terra-Atmosfera afetam o clima, tais como, variação de albedo planetário, porcentagem da radiação solar incidente e concentração de aerossóis. Entretanto, tais fatores não bastam para explicar tanto aquecimento em tão pouco tempo.
O fato é que existe um conflito de informações, as quais devem ser tratadas de forma cautelosa. De um lado estão aqueles que afirmam que a ciência é imprecisa, que os dados são incoerentes e que ainda existem dúvidas quanto à verdadeira causa dos fenômenos ocorridos. De outro, aqueles para os quais o aquecimento global já é uma realidade. A verdade é que está cada vez mais evidente que há algo de errado acontecendo em nosso planeta: fenômenos que antes ocorriam ao longo de eras geológicas agora se sucedem no decorrer de uma geração.
A hipótese de que o aquecimento da Terra é fruto da ação humana foi confirmada, com mais de 90% de probabilidade, com a divulgação recente de uma parte do Quarto Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). No relatório anterior, publicado em 2001, essa probabilidade havia sido estimada em 60%. Os cientistas ressaltam que até o final deste século a temperatura na Terra vai aumentar em torno de 3 a 5ºC, caso não ocorra uma redução imediata da emissão de poluentes. E ainda, que o aquecimento global vai causar derretimento de geleiras e o consequente aumento do nível do mar, gerando tufões e furacões menos frequentes, porém mais intensos.
No filme “Uma Verdade Inconveniente” Al Gore chama a atenção para os diversos fenômenos catastróficos já ocorridos em todo o mundo, como o furacão Katrina nos Estados Unidos, as intensas ondas de calor na Europa, as inundações na China e o derretimento das geleiras do Monte Kilimanjaro. Ele ressalta que esses fenômenos serão cada vez mais frequentes e violentos. Cita também que sempre foi considerada impossível a formação de furacões no Atlântico Sul, mas, em 2004, o Brasil foi atingido pelo furacão Catarina. Entretanto, a intenção principal do filme não é ser alarmista, não é deixar as pessoas apavoradas com o que possa acontecer, e sim informar, esclarecer a realidade e, principalmente, mostrar que algo tem que ser feito.
Intercalado a uma exposição didática da problemática ambiental, o filme apresenta histórias da vida pessoal do protagonista, como o acidente que quase matou seu filho, a morte de sua irmã, as aulas de um professor na universidade e a sua derrota nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Isso “quebra” um pouco o cenário científico do documentário e revela claramente o interesse do ex-candidato à presidência dos Estados Unidos em reerguer-se no cenário político.
Al Gore diz ter tornado a questão “mudanças climáticas” prioridade número 1 de sua vida profissional. É inegável o entusiasmo com que ele aborda o assunto e demonstra sua paixão pela luta ecológica. Mas, inegável também é a tentativa de promoção política explícita nas entrelinhas do filme. O “quase-presidente” dos Estados Unidos realça sua imagem pública quando aborda a politização do aquecimento global. Além disso, ele ressalta a enorme culpa de seu país neste processo, lembrando que os Estados Unidos, país que mais polui - responsável por aproximadamente ¼ das emissões de gás carbônico - foram um dos dois únicos países a não ratificar o Protocolo de Quioto, juntamente com a Austrália. Desse modo, faz c críticas à posição do seu último oponente eleitoral, o presidente George W. Bush, em relação à não-adoção de políticas em prol da minimização do aquecimento global.
Independentemente de quem seja o protagonista deste assunto, seja ele cidadão norte-americano ou não, contra ou a favor do governo Bush, temos que admitir que é impossível falar de “aquecimento global” sem considerar os Estados Unidos o maior vilão da história.
Embora Bush admita que o mundo esteja ficando mais quente, ele ainda insiste em afirmar que não existem provas conclusivas de que o aquecimento global seja causado por atividades humanas, resistindo, desta forma, em adotar medidas de redução de emissões de poluentes. O motivo da não-ratificação do Protocolo de Quioto pelos Estados Unidos não é segredo para ninguém. Para o país com a maior economia mundial, reduzir emissões de poluentes significa mudança nos padrões de produção, no modo de vida dos norte-americanos e, indiretamente, prejuízos à economia. Talvez seja mais conveniente ignorar a verdade, mesmo sabendo que suas consequências são inconvenientes. Entretanto, mesmo sem o apoio do governo, os norte-americanos vêm se demonstrando preocupados com essa questão. Várias cidades já adotaram medidas por conta própria, implementando políticas em prol da redução de poluentes causadores do aquecimento global.
“Uma Verdade Inconveniente” desperta o público para as reais consequências do aquecimento global, mostra que nenhuma forma de vida a habitar o planeta Terra foi tão agressiva quanto a raça humana. Ao mesmo tempo, mostra que existem soluções viáveis para que, pelo menos, tentemos minimizar seus impactos. Várias dessas soluções dependem de políticas governamentais, mas a maioria delas terá que partir de cada um de nós.
“Cada um de nós é uma causa de aquecimento global; mas cada um de nós pode se tornar parte da solução - em nossas decisões sobre o produto que compramos, a eletricidade que usamos, o carro que dirigimos, o nosso estilo de vida. Podemos até fazer opções que reduzam a zero as nossas emissões de carbono.” Al Gore
Independentemente das razões que levaram Al Gore a abraçar esta causa, realizar conferências, escrever livros e produzir o filme, a adoção de ações que minimizem os efeitos das mudanças do clima são necessárias e urgentes. Temos que nos conscientizar que somos os culpados da crise climática do nosso planeta e cabe a nós fazermos algo para revertê-la.
Documentário Encontro com Milton Santos


No filme “Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá”, é feito um recorte singular sobre a globalização, a sociedade de consumo, as divisões que esta sociedade se encontra, o território, os efeitos famigerados da globalização, as crises que esta promove, as barreiras físicas e simbólicas postas pelo capitalismo como efeito da globalização, o papel da mídia e as revanches organizadas por suas maiores vítimas. 
A crise se estabelece e Milton Santos faz este alerta quando afirma que: “O consumo é o grande fundamentalismo”. E é sagaz quando apresenta as três vertentes da globalização no mundo; a globalização como é posta, a globalização da perversidade e o mundo por uma outra globalização. 
No decorrer do documentário é apresentada uma série de acontecimentos no mundo inteiro que focam a atenção n
as causas que esta sociedade capitalista centraliza, a fim de obter benefícios próprios em detrimento da desorganização do território, da apropriação de bens comuns e do uso privado de riquezas mundiais por parte de uma minoria. Apropriações indevidas que geraram tensões por tentar deter grandes bens nas mãos de pequenos grupos, enquanto se assolava o estado de miséria e a sociedade crônica para todo o resto. 
A tentativa de privatização da água potável em Cochabamba, Bolívia em 2000 e o 3º Fórum Mundial da Água em Kioto, Japão em 2003, foram eventos que chamaram a atenção do mundo para os efeitos da famigerada globalização frente à sociedade capitalista na qual vivemos. 
Em meio à crise financeira , ao estado de caos que se encontra, tem-se o crescimento crônico do desemprego, a fome e o desabrigo que cada vez mais se alastra. Os baixos salários, o estado de mendicância e miséria em que as pessoas são postas, crescem diretamente proporcional ao que chamamos do segundo efeito da globalização, ou globalização da perversidade, em que a pobreza é vista com naturalidade. 
Enquanto isto, a sociedade se divide em dois grandes grupos; “o grupo dos que não comem e o grupo dos que não dormem com receio do grupo dos que não comem.” (José de Castro). E Milton Santos ainda afirma que “produzimos mais comida do que consumimos”. E esta sociedade subdividida permanece criando barreiras de segregação. Sejam estas barreiras físicas – Muralha da China e Muro de Berlim – ou barreiras simbólicas – que é a que a Europa mantém contra os estrangeiros e clandestinos, a fronteira entre o México e o EEUU, onde a migração não é desejada. 
Adiante os acontecimentos tem a mídia como a fábula da globalização, que assume o papel de intermediação diante desta, pois controla a interpretação do que acontece no mundo, em que não há produção excessiva de notícias, e sim de ruídos. 
Contudo, a revanche é feita. Os grupos que são massacrados e postos à margem deste processo atroz de desenvolvimento global ganham força com seus movimentos e buscam reverter a ordem de tudo que está posto. A África e a América Latina são os gigantes despertando para os problemas que lhe são causados, e que não se promovem por quem lá habita e sim pelos grandes “olheiros” e investidores de mercado que ambicionam ganhar espaço para depois explorá-lo. E não há melhor modo de fazer isto, senão criando confrontos entre os grupos para adquirirem espaços de dominação. 
Com o despertar destes grandes pólos de desenvolvimento, os espaços cada vez mais são tomados e causam incômodo. Daí tem os olhares do norte x os olhares do sul, que propicia a observação da diferenças de pólos econômicos em blocos capitalistas distintos; os que produzem e os que consomem. Numa fala mais íntima do que possa representar os grupos que tem e os grupos que não tem moeda de consumo numa sociedade que impera a globalização da perversidade. 
E Milton Santos afirma que: “Não há cidadania no Brasil. A classe média não requer direitos, e sim privilégios.” O estado de cidadania nos é roubado pelo jogo de interesse no qual esta classe promove. Mas Milton Santos é perspicaz ao frisar que estas ações não são promovidas de modo estanque pelo Estado, e afirma que: “As fontes criadoras de diferenças e desigualdades são mais fortes que as ações do Estado. Para isto, é necessário um Estado socializante.” 
Diante deste Estado socializante a ser construído há também uma sociedade e Milton Santos é muito feliz quando diz que esta sociedade na qual vivemos ainda é um ensaio; ela nunca existe.

O Atlântico Negro: nas rotas dos Orixás

O Atlântico Negro: nas rotas dos Orixás, é um filme que retrata a importância do continente Africano na construção da sociedade brasileira. Esta estruturação cultural mostra a semelhança existente entre estes povos, dentre estes laços: a religiosidade, a musicalidade, a fala, hábitos alimentares, a estrutura familiar e as manifestações culturais.
                    Durante as cenas do filme são desconstruídas visões etnocêntricas e de censo comum sobre o continente Africano. A idéia de um território que vive em constante estado de guerras étnicas e civis, de fome e total miséria é desmistificado para mostrar o lado cultural da África que deu origem ao candomblé, o Xangô e ao Tangô, religiões presentes no território brasileiro. Essa representação cinematográfica nos dimensiona a entender o início da mercantilização africana e de como a escravidão se tornou uma mera desculpa para a propagação das guerras civis, iniciando assim um intercâmbio biológico, econômico e cultural entre Brasil e África.
                    Nota-se, que ter um outro olhar da África nos ajuda a compreender a nossa própria história, tanto nos hábitos sociais, quanto nos costumes oriundos desta terra quase que desconhecida. Tendo a perspectiva que a cultura africana não é a unicamente baseada na história colonial e no expansionismo europeu, a África com reinos e império possui suas formas particulares de governar e agir como povo. A reconstrução da histórica africana nos permite entender como a escravidão se promulgou pelo espaço geográfico e social do Brasil, dissipando as misturas biológicas que originou a miscigenação nacional e a diversidade religiosa presentes nos terreiros de candomblé como o: ilê aié axé opô ofonjá e casa branca.
                    Todo o tema abordado no documentário, abre um leque de oportunidades para entender melhor a África e o Brasil e conhecer também que existe uma troca cultural entre os dois lugares referidos. Compreendendo que o retorno dos africanos escravizados para o continente de origem, representou também a ida de valores culturais, morais e sociais brasileiro como: a construção da igreja e da festa do Senhor do Bonfim, a construção (mesmo que em pequena escala) da arquitetura brasileira em solo africano e a vestimenta feminina das mulheres agudas  Além de entender que mesmo depois da escravidão, a cultura brasileira continua sendo preservada por este povo que se denominam brasileiros, mesmo tendo nascido em solo africano.
                    Esta perspectiva mostra a construção de nossas raízes, ajudando a fazer paralelos que melhorem o entendimento dessas aplicações no Brasil. Hoje em pleno século XXI a forma de vida dos afro-descendentes tornou-se uma luta política e social que visa a reparação da escravidão que aconteceu no país. Entretanto, este documentário ressalta a trajetória africana como um continente repleto de etnias e formas de vidas variadas, desconstruindo a visão eurocêntrica e religiosa da igreja católica que foi desenvolvida na história ao longo dos séculos.
O documentário nos apresenta a importância da cultura africana para a consolidação da cultura brasileira. São perceptíveis as contribuições dos escravos trazidos da África para a construção da cultura na sociedade brasileira, visto que na travessia do Atlântico o povo africano trouxe em seu coração e na lembrança ritmos, costumes, crenças, culinária dentre outros componentes que favoreceram o processo de enriquecimento e afirmação de nossa cultura.
                   Da Matta (1981) coloca que pode sim existir cultura, mesmo que uma sociedade seja extinta, mas não pode haver sociedade sem cultura. A cultura está internalizada nos indivíduos. Este processo aconteceu na chegada dos escravos africanos ao Brasil, mesmo não trazendo objetos que os aproximassem de suas tradições e costumes; mesmo os escravizadores acreditando que existia uma árvore que dando voltas em torno dela apagaria as lembranças de sua antiga sociedade, os escravos traziam tatuados em sua alma suas tradições, sua cultura, que foi construída, consolidada e internalizada a partir de um longo processo de civilização. Ao chegar ao Brasil, o que aconteceu foi uma adaptação e uma miscigenação destas crenças, costumes à realidade brasileira, visto que existiam aqui especificidades locais, culturas locais (indígena, européia), e os escravos que aqui chegavam buscavam manter viva sua cultura no novo cenário que se apresentava.
                 
Sabemos que ainda hoje existe uma forte resistência às tradições africanas, consideradas por muitos, atividades demoníacas pecaminosas, principalmente quando falamos dos cultos e cerimônias religiosas. A sociedade brasileira infelizmente não amadureceu suficientemente ao ponto de perceber a riqueza da cultura africana e sua enorme contribuição a nossa cultura, e quem sem esta, não seria possível existir o ecletismo cultural vivenciados nos dias atuais

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